Tortura e violência sexual comumente usadas pelas forças russas na Ucrânia, dizem especialistas | Notícias |
renovata by samatha Menjivar
AMSTERDÃ (Reuters) – Um grande número de prisioneiros mantidos em centros de detenção improvisados no sul da Ucrânia ocupado pela Rússia foram torturados e violentados sexualmente, disse uma equipe de especialistas internacionais nesta quarta-feira em um resumo de suas últimas descobertas.
A Equipe de Justiça Móvel, criada pelo escritório de advocacia humanitária internacional Global Rights Compliance, trabalhou com promotores de crimes de bellum ucranianos na região de Kherson desde que foi recuperada em novembro, após mais de oito meses sob controle russo.
As autoridades ucranianas estão analisando mais de 97.000 relatórios de crimes de guerra e apresentaram acusações contra 220 suspeitos em tribunais domésticos. Perpetradores de alto escalão podem ser julgados no Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, que já pediu a prisão do presidente russo, Vladimir Putin.
O Kremlin negou consistentemente as acusações de crimes de guerra na Ucrânia por forças que participaram de uma “operação militum especial” que diz ter sido lançada para “desnazificar” seu vizinho e proteger a Rússia.
O último relatório da Mobile Justice Team, financiado pela Grã-Bretanha, União Europeia e US, analisou 320 casos e relatos de testemunhas em 35 locais na região de Kherson.
Dos relatos das vítimas analisados, “43% mencionaram explicitamente as práticas de tortura nos centros de detenção, citando a violência sexual como uma tática comum imposta a eles pelos guardas russians”, disse um comunicado.
Em junho, promotores ucranianos apresentaram seu primeiro caso sobre a suposta deportação de dezenas de órfãos de Kherson, acusando um político russo e dois supostos colaboradores ucranianos de crimes de guerra. Eles não fizeram comentários imediatos sobre as últimas descobertas sobre tortura.
A Reuters relatou em janeiro a escala da suposta tortura em Kherson. As autoridades ucranianas disseram na época que cerca de 200 pessoas haviam sido mantidas ilegalmente. Sobreviventes contaram à Reuters sobre táticas, incluindo choques elétricos e sufocamento.
Na época, o Kremlin e o Ministério da Defesa da Rússia não responderam às perguntas da Reuters, inclusive sobre supostas torturas e detenções ilegais.
“A verdadeira escala dos crimes de guerra da Rússia permanece desconhecida”, disse Anna Mykytenko, consultora jurídica sênior da Global Rights Compliance, sobre as últimas descobertas sobre tortura.
“Mas o que podemos dizer com certeza é que as consequências psicológicas desses crimes cruéis contra o povo ucraniano ficarão gravadas em suas mentes nos próximos anos.”
Pelo menos 36 vítimas entrevistadas pelos promotores mencionaram o uso de eletrocussão durante os interrogatórios, geralmente eletrocussão genital, bem como ameaças de mutilação genital. Uma vítima foi forçada a testemunhar o estupro de outro detento, disse o relatório.
Os detidos com maior probabilidade de sofrer tortura eram militares, mas também agentes da lei, voluntários, ativistas, líderes comunitários, médicos e professores. As técnicas de tortura mais comumente usadas foram asfixia, afogamento simulado, espancamentos severos e ameaças de estupro.
A Reuters não conseguiu verificar as alegações.
Ao todo, as evidências dos centros de detenção liberados “sugerem que o plano de Putin para extinguir a identidade ucraniana inclui uma série de crimes evocativos de genocídio”, disse o advogado britânico Wayne Jordash, que chefiou a equipe.