Como funciona o Quantitative Easing?
Em geral, o QE consiste em um banco central injetar dinheiro na economia por meio da compra de títulos (como ações, títulos de dívida e ativos do tesouro) do governo ou de bancos comerciais.
Os bancos centrais aumentam os fundos de reserva desses bancos membros (que são mantidos em conformidade com o sistema bancário de reserva fracionária) por meio da concessão de novos créditos. Como o novo crédito não é garantido por uma mercadoria ou qualquer coisa de valor físico, o QE essencialmente cria dinheiro do nada.
Portanto, o objetivo do QE é aumentar a oferta de dinheiro, tornando-o mais acessível como forma de estimular a atividade econômica e o crescimento. A ideia é manter as taxas de juros baixas, impulsionando os empréstimos para empresas e consumidores e promovendo a confiança na economia como um todo. Na prática, porém, o QE nem sempre funciona e é uma abordagem bastante controversa, com defensores e críticos.
O que impulsionou o uso do Quantitative Easing?
O QE foi concebido para resolver problemas que surgiram quando as práticas bancárias modernas convencionais não conseguiram evitar uma recessão. O objetivo principal do QE é aumentar a inflação (para evitar a deflação) – e os ajustes nas taxas de juros são uma das principais ferramentas que os bancos centrais usam para controlar a taxa de inflação.
Quando o endividamento e a atividade financeira diminuem, o banco central de um país pode reduzir a taxa para tornar mais acessível aos bancos a concessão de empréstimos. Por outro lado, quando as coisas estão um pouco soltas – com gastos e crédito se aproximando de níveis arriscados – uma taxa de juros mais alta pode atuar como uma espécie de barreira.
O Quantitative Easing é eficaz?
Pouco depois do fim da crise financeira de 2008, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou uma nota em que o QE foi discutido como uma política monetária não convencional eficaz. A análise incluiu cinco principais bancos centrais: o Federal Reserve dos Estados Unidos, o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra, o Banco do Canadá e o Banco do Japão.
Cada instituição implementou uma estratégia única, mas a maioria delas aumentou drasticamente a liquidez geral do mercado. O relatório afirma que as intervenções realizadas pelos bancos centrais foram bem-sucedidas e que o aumento da liquidez foi importante para evitar uma crise econômica prolongada e um colapso do sistema financeiro.
No entanto, o QE nem sempre é eficaz e depende muito do contexto e da estratégia. Muitas economias que experimentaram o uso do QE (ou uma abordagem semelhante) não obtiveram os efeitos desejados. Se não for gerenciado adequadamente, o ato de injetar dinheiro na economia e reduzir as taxas de juros pode causar resultados inesperados e indesejáveis. Abaixo, listamos algumas das vantagens e desvantagens potenciais.
Vantagens potenciais e efeitos positivos
- Mais empréstimos: Devido ao aumento de fundos por meio da compra de ativos pelo banco central, espera-se que os bancos sejam incentivados a fazer mais empréstimos.
- Aumento do endividamento: Consumidores e empresas têm maior probabilidade de contrair novas dívidas quando as taxas de juros estão baixas.
- Maior gasto: Os consumidores aumentarão seus gastos devido a todo o novo endividamento e empréstimos, gerando mais dinheiro. Com taxas de juros mais baixas, deixar o dinheiro parado em poupança não é tão atrativo.
- Criação de empregos: Quando as empresas têm acesso a mais capital por meio de empréstimos e estão vendendo mais devido ao aumento dos gastos do consumidor, elas são incentivadas a expandir e contratar mais funcionários.
Desvantagens potenciais e efeitos negativos
Muitos especialistas expressam a preocupação de que o QE seja apenas um paliativo para problemas estruturais maiores que eventualmente afundarão a economia. Alguns dos possíveis inconvenientes incluem:
- Inflação: O aumento da oferta de dinheiro causado pelo QE naturalmente cria inflação. A competição por produtos aumentará porque há mais dinheiro circulando, mas não há aumento na oferta de bens. A maior demanda leva a preços mais altos. Se não for gerenciada adequadamente, as taxas de inflação podem aumentar rapidamente, levando à hiperinflação.
- Não há empréstimos forçados: No QE, os bancos comerciais devem usar o dinheiro que recebem do banco central para oferecer mais empréstimos. Mas não há nada no processo que os obrigue a fazer isso. Por exemplo, quando o QE foi aplicado nos Estados Unidos após a crise financeira de 2008, muitos bancos mantiveram sua nova riqueza em vez de distribuí-la.
- Mais dívida: O benefício do aumento do endividamento pode levar empresas e consumidores a tomar empréstimos além do que podem pagar, o que pode ter consequências negativas para a economia.
- Impacto em outros instrumentos de investimento: O mercado de títulos costuma reagir negativamente à instabilidade e a mudanças abruptas, que são bastante comuns após a implementação de políticas de QE.
Exemplos
Alguns países cujos bancos centrais utilizaram o Quantitative Easing incluem:
- Banco do Japão: 2001-2006 e 2012-presente (Abenomics). Os esforços de QE não amenizaram seus problemas financeiros. O iene japonês enfraqueceu em relação ao dólar americano, e o custo das importações aumentou.
- Estados Unidos: 2008-2014. Os EUA implementaram três rodadas de QE para lidar com a crise imobiliária e a recessão resultante. A economia se recuperou, mas se isso foi devido ao QE é discutível. Uma comparação com o Canadá, que não utilizou práticas bancárias de QE, não revela diferenças notáveis.
- Banco Central Europeu: 2015-2018. A zona do euro teve altos e baixos, com inflação estável, diminuição do desemprego e uma economia forte em 2017, mas ainda enfrenta um crescimento salarial pouco inspirador e aumento das taxas de juros.
Considerações finais
Como estratégia monetária não convencional, o QE pode ter ajudado algumas economias em suas recuperações, mas certamente é uma estratégia controversa, e até mesmo essa conclusão é discutível. A maioria dos riscos potenciais, como hiperinflação e dívida excessiva, ainda não se concretizaram de forma devastadora, mas alguns países que utilizaram o QE experimentaram instabilidade cambial e impactos prejudiciais em outras áreas e mercados econômicos. As consequências de longo prazo não são claras o suficiente, e os efeitos do QE podem ser totalmente diferentes de acordo com o contexto.